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a revolução,
como poema e combate


 

01 - ao MPO, pois

Oi, aqui é Helena Miranda. No meu primeiro escrito, Não ia te dizer, não pude entrar em detalhes sobre o MPO – Movimento Parar o Ocidente. Por vários motivos.

Mas, nesse meio tempo, Lázaro foi me revelando o Movimento, até que o grupo de González me considerasse amadurecida para fazer parte formalmente, com presença em reuniões, contribuição mensal e tudo o mais.

Além disso, antes de eu e Lázaro juntarmos de fato nossos rios, a verdade é que ainda via o Movimento como algo meio delirante, mais uma tentativa desesperada de uma pessoa ou um grupo, para salvar, redimir a humanidade com suas iluminadas idéias.

Já que está todo mundo perdido mesmo, desde o fim do socialismo na revolucionária Rússia, então vale tentar de tudo, para encontrar uma saída que de fato supere o Imperialismo-capitalismo putrefato e asqueroso, comandado pelo estúpido Ocidente, assassino da Vida, palavras de U. e Ilídio, que faço questão.

E, mesmo já tendo acertado nossas vidas, com eu e Lázaro viajando muito por aí, nestes últimos meses, tanta gente, tantas cidades, tantos contatos para o MPO - tanta história pra contar - ainda assim não tínhamos, digamos, uma autorização formal para divulgar o Movimento.

Por mais que Lázaro, Ilídio, U., eu, , minha atrevida prima Marcelina, minha ex-rival Juliana, e muitos outros, argumentássemos que não havia porque esperar mais para a divulgação do MPO, éramos sempre voto vencido; Olavo, Murilo, Jean, Maciel e o resto do Movimento sempre fechavam com o espanhol – atualmente somos bem mais de cem pessoas envolvidas, em cerca de quinze cidades, até mesmo em Beagá temos uma célula, outra em Vitória, articulada pelo caminhoneiro Nildo, companheiro de Juvenal.

*

Para González, era uma questão de estratégia. Segundo ele, o advento do Movimento, sua aparição no mundo, deveria ser algo fulminante, algo que surpreendesse e envolvesse o maior número possível de pessoas. E, para tal, precisaríamos estar organizados, preparados para responder a esse suposto envolvimento em massa, aliando-nos às centenas de outros movimentos que certamente iriam brotar no estado pré-revolucionário, o qual ele entendia que estava para surgir. E isso no planeta como um todo, e não apenas em alguns países. Por isso o nome do Movimento, que tinha como ousada meta propor uma Parada Planetária, e não apenas rebeliões aqui e ali.

Mas, por fim, a maioria se convenceu de que não há no horizonte esse suposto estado pré-revolucionário e planetário, essa suposta decadência iminente do Imperialismo; tanto poderá ocorrer hoje, quanto daqui a dez, vinte, trinta anos. Então, o correto é lançar e divulgar logo o Movimento, renunciar ao tal fulminante fator surpresa que González e alguns outros defendiam. Construir o MPO lenta e pacientemente.

E conseguimos que todos colocassem o pé no chão, encarar a realidade, deixar de ver o MPO como um movimento messiânico, iluminado, que, por si só, teria o condão de envolver, conduzir e redimir a humanidade, apesar das propostas de González serem bastante diferentes de tudo o que conhecíamos até então.

E temos, então, autorização para, cada um à sua maneira, divulgar o MPO; claro, respeitando as diretrizes do Movimento e as linhas gerais do Manifesto O Colapso e o Pacto: Parar O Ocidente, discutido e escrito por um verdadeiro bando: U., Olavo, Ilídio, Lázaro e González, e que está em processo de finalização.

Assim, enquanto não se conclui o Manifesto formal e oficial de lançamento do MPO, segue abaixo um pouco da forma como eu e Lázaro o vemos, já que este é um escrito a quatro mãos, junto com meu namorado, mestre literário e companheiro de sonhos revolucionários-planetários, nesta ordem de importância. Na verdade, eu redigi quase todo o escrito.

Lázaro, no momento, não teria tempo para se dedicar com disciplina e persistência a este escrito. Saiu, há alguns meses, de sua grande paralisia, do bloqueio criativo que o impedia de terminar Isaía, Irma e Baiano. E já está quase terminando Passa-Ouro. Aleluia, a crise passou!

Mas, ainda assim, considero um escrito a quatro mãos, pois fui sempre assistida por Lázaro, em cada página, em cada parágrafo e na estrutura geral do escrito - e, claro, sempre esclarecida, iluminada por ele no que tange às idéias e propostas do MPO, quando havia alguma confusão ou dúvida na minha cabeça.

E não deixa de ser uma espécie de comemoração, este nosso escrito, afinal estamos na primavera de 98, quase exatamente um ano depois de todos aqueles acontecimentos que narrei em Não ia te dizer; um ano depois que eu e Lázaro tornamo-nos companheiros de escrita, e não apenas de cama, cozinha e chuveiro, misturando as águas de nossas palavras e não apenas as nossas quentes águas íntimas.

Ao MPO, pois.

 

02 - gonzález, o intuitivo - as três vertentes

González estava presente na Queda do Muro, em Berlim, poucos antes de vir para o Brasil, e se estabelecer em definitivo por aqui. E daqui continuou acompanhando a derrocada do socialismo na então União Soviética. Perplexo e deprimido, mas não surpreso, como a maioria da esquerda lúcida daquela época. Já anteviam que algo de muito grave aconteceria com o socialismo soviético.

E, como tantos, o filósofo espanhol entendeu que, dali para a frente, a humanidade teria que jogar unicamente de acordo com as regras do Imperialismo, e da sua impiedosa conquista dos povos do mundo inteiro, disfarçada de globalização e de modernização. Não haveria mais um oponente que pudesse atenuar ou humanizar os efeitos degradantes dessa falsa comunhão entre os povos, levada em frente pelo neoliberalismo.

Até aí nada de mais. Mas se, por um lado, o caminho estava livre para um domínio global do Imperialismo, por outro se abria uma porta para uma resistência também global, também planetária, uma porta para uma real comunhão entre os povos, à margem da, e contra a, falsa globalização apregoada pelo Imperialismo. Como tantos outros, González também entendeu isso. E começou a acreditar numa mobilização planetária, e isso já pelos anos de 92, 93, bem antes, portanto, dos primeiros movimentos de confrontação contra a falsa globalização, que começam a pipocar aqui e ali.

Já naqueles anos, começou a tomar corpo, em suas reflexões, a criação de um movimento que simplesmente propusesse e, mais do que isso, provocasse uma verdadeira parada da engrenagem ocidental, levando essa engrenagem simplesmente ao colapso. Nada menos do que isto: PARAR O OCIDENTE.

Até aqui, ainda talvez nada de mais, apenas um sonho, uma utopia, ou mesmo o projeto político dos revolucionários do mundo inteiro, principalmente dos trotskistas que, parece, são os únicos marxistas que pregam a Revolução Comunista Internacionalista. Voltaremos a falar dos trotskistas e de seu principal partido aqui no Brasil, o PCO, liderado pelo lúcido, culto, e às vezes adoravelmente sarcástico Rui Costa Pimenta.

Acontece que as propostas do filósofo espanhol trazem alguns diferenciais, que são o que nos atraem para o Movimento. González propõe trabalhar três vertentes nesse projeto de provocar a Destruição e a Superação do Ocidente e do Imperialismo.

Primeiro, a vertente da juventude e da esquerda identitária, com suas propostas de defesa do meio ambiente, liberação dos costumes – na questão das drogas, do corpo – enfrentamento da opressão às minorias (negros, mulheres, indígenas e homossexuais, entre outras) e superação das instituições políticas atuais, substituídas pela democracia direta, horizontal, sem necessidade de partidos políticos.

Segundo, a vertente dos marxistas radicais, melhor dizendo, dos marxistas de raiz, aqueles que pregam e trabalham, sim, para uma Revolução em nível mundial. Sem fazer concessões, nos mesmos moldes da Revolução Russa, com direito a ditadura do proletariado e eliminação física da classe dominante, se for preciso; mas, claro, sem repetir o erro fatal de dar espaço para uma cruel, oportunista e cretina burocracia apossar-se da Revolução, como aquela burocracia que foi alimentada por Stalin. Não é preciso dizer que essa vertente dos marxistas teria que ser necessariamente capitaneada pelos trotskistas.

Por fim, uma vertente filosófica, ou transcendente. Essa vertente não seria propriamente militante, combativa, mas estaria também ocupando as ruas, contribuindo, convidando as outras vertentes para verem a sua mobilização planetária como construção de algo maior, para além do enfrentamento e da solução de problemas de ordem econômica, política, ambiental e comportamental.

*

Nesta primeira parte, não vou me ocupar muito sobre o papel dessa vertente transcendente na Revolução Planetária, qual a sua importância real na Parada e no Colapso do Ocidente; embora seja uma das proposições que mais nos atraem no MPO.

Veremos muito sobre a relação da Revolução com o Transcendente e o Sagrado na segunda parte deste escrito. Mas serão transcrições diretas das falas e reflexões de González e Lázaro, seu braço-direito e discípulo predileto; não vou perder a oportunidade de lembrar que Lázaro é também o meu coração-direito, ou minha genuína alma-gêmea, para quem preferir, e também o meu corpo predileto e o discípulo predileto de meu corpo.

Enfim, eu não teria bagagem cultural e filosófica, nem coragem intelectual para falar de realidades tão complexas quanto o Sagrado, o Transcendente e o Ser como fundamentos últimos da Revolução. Aqui, vou abordar mais especificamente as questões concretas do MPO, suas propostas objetivas de mobilização para provocar, em nível planetário, o Colapso do Ocidente e, simultaneamente, o Aprendizado da construção de um novo mundo.

 

03 - sem pressa, sem competição

O  primeiro ponto que temos que levar em conta: a Ocupação Planetária de ruas, praças, cidades e estradas não será um processo rápido e tranquilo. Essa articulação exigirá tempo, e somente se tornará possível com o gradual engajamento de milhares e milhares de organizações populares mundo afora.

Outro ponto: após consolidada essa Ocupação, assistiremos ao gradual Colapso do Imperialismo e do Ocidente. Mas não o faremos de forma passiva, como meros espectadores. Enquanto a Ocupação e o Colapso ocorrerem, o novo mundo, pós-imperialista, pós-capitalista, pós-Ocidente, estará sendo debatido, inventado, negociado pelas milhares de organizações populares que irão provocar o Colapso. Utilizando os termos de González, a Reorganização do novo mundo acontecerá junto com a Desorganização do Ocidente.

E, em seguida, o terceiro ponto: o Aprendizado, de que falei há pouco. Não haverá, na etapa da Reorganização, um projeto pronto, pré-elaborado, seja pelo MPO, seja por qualquer outra organização popular, independente de seu tamanho, abrangência ou esfera de influência, e independente de ser uma organização vertical ou horizontal. Tudo será construído no dia a dia, de igual para igual entre todos os movimentos, e sempre levando em conta as características culturais e econômicas de cada cidade, região ou país.

 Claro que terão que ser construídos acordos amplos e complexos, para contemplar questões de nível nacional e, principalmente, de nível mundial; como por exemplo a questão da Amazônia, a questão da quase imediata eliminação dos combustíveis fósseis, e da radical eliminação de armas nucleares, num primeiro momento, e de todas as armas, noutra etapa.

E um último ponto, que tem a ver com o primeiro: não haverá uma data estipulada para que, depois de iniciada a Ocupação Planetária, provoquemos o Colapso e a Desorganização do Ocidente e, por fim, a Reorganização. Não há que ter uma meta temporal ou cronológica a ser rigidamente perseguida. Tudo poderá demorar cinco anos, ou dez, vinte, cinquenta anos. Não estará em questão a obrigatoriedade da eficácia, da competência ou da competição, como se fosse mais um projeto de conquista do Ocidente. Afinal, teremos todo o tempo do mundo para destruir a velha ordem e construir o novo mundo. Com exceção, é claro das questões e ameaças mais urgentes, como a eliminação imediata das armas nucleares, a proteção da Amazônia e outros problemas ligados ao desastre climático, no qual já estamos envolvidos.

Esses temas, sim, não poderão esperar, nem mesmo terão que obedecer a cronograma algum, terão que ser imediatamente propostos e enfrentados; custe as vidas que custar, teremos que encostar o Ocidente duramente contra a parede da História, mesmo que com ações mais contundentes, agressivas, até mesmo guerrilheiras. E, nestes perigosos e urgentes temas, também a China, a Rússia, o Irã e outros povos, que não alimentam o Imperialismo do Ocidente, terão que ser igualmente confrontados, embora acreditemos firmemente numa convergência de idéias e posturas desses países com os propósitos maiores do MPO. Aliás, a essa questão dos países que não compõem o Imperialismo do Ocidente, teremos que voltar depois.

*

Quanto a não haver um cronograma, uma meta, com relação aos outros temas, muitos alegarão que é urgente a radical transformação do mundo e a superação do obsoleto capitalismo, pois corremos o risco de sermos tomados pela Barbárie, por governos totalitários ou por assustadoras distopias de um mundo desumanizado, coisas como o sufocante 1984, do Orwell, o sombrio Blade Runner, ou o eficientíssimo e sofisticado Admirável Mundo Novo, do também admirável Huxley.

Sim, em parte é correto. Mas é preciso lembrar que o simples fato de começar a Ocupação, ou plantar a sua semente, já traz em si a ruína do Ocidente. Pois, uma vez iniciada a Ocupação, o Colapso e a Desorganização se consolidarão cada vez mais, serão irreversíveis. Ou seja, o MPO acredita numa inevitável e cada vez maior adesão das pessoas e dos povos a essa marcha contra a estupidez imperialista, adesão a essa Parada Planetária.

E acredita, também, que consolidada essa Parada, não haverá porque estabelecer uma meta, um tempo para a vitória dos povos, pois essa vitória já estará garantida, pelo simples fato de o Ocidente estar paralisado, colapsado. Então, não haverá porque apressarmo-nos, não haverá porque, em nome de uma falsa urgência, corrermos o risco de erros, precipitações e disputas inoportunas – que, convenhamos, é o que mais acontece no campo da esquerda.

O momento vivido pelas pessoas, pelos povos e pela humanidade será tão mágico e tão complexo que não haverá como estabelecer, com precisão, os contornos, as previsões, as direções desse Movimento único na História. Tudo caminhará da forma como tiver que ser, não estará ao nosso alcance controlar o devir.

 

Teremos apenas que estar atentos e lúcidos, para implantarmos soluções, discutirmos possibilidades, reinventarmos a vida no Novo Mundo, e tudo isso em constantes movimentações - encontros, reencontros, viagens, andanças - todos que assim o quiserem estarão sempre em movimento pelas estradas, praças, e cidades. Onde houver uma Ocupação os andarilhos do movimento serão reconhecidos, acolhidos, ouvidos, serão cuidados, como diria González.

Enfim, o que importa é começar a Ocupação e, a partir de certo ponto, simplesmente decretar o fim e o Colapso do Ocidente para, então, começarmos a Segunda Etapa - o processo de Reorganização e construção do Novo Mundo. Etapa essa que, repita-se, poderá demorar quantos anos for preciso. Pois essa etapa e esses anos já farão parte do Novo Mundo, já serão a própria Festa, a Primeira Festa da Humanidade como um todo, como U. já apontou no seu cativante e intrigante Dala.

Mas, por outro lado, não podemos confundir a ausência de um rigoroso cronograma, para a Reorganização do mundo, com uma falta de iniciativa, ou um recorrente adiamento, para o processo de Ocupação e de Desorganização do Ocidente e de suas estruturas vitais. Essa primeira etapa tem que se iniciar, sim, o mais rápido possível. Já não há mais dúvidas de que o Ocidente está desmoronando, tanto em termos de manter o poder dos Comandantes, quanto em termos de garantir um horizonte minimamente promissor para os Comandados.

04 - é hora, é hora!

É  hora, é hora de convocar, arregimentar, convidar as pessoas para as ruas, praças, estradas, pontes e campos!

Toda e qualquer pessoa em todo e qualquer recanto do planeta!

Todos com um único propósito: PARAR O OCIDENTE. Interromper o tráfego das mercadorias, que são a alma do Imperialismo, e também dos serviços. Quanto aos serviços essenciais, e quanto a quais são de fato esses serviços essenciais, serão questões discutidas e solucionadas no próprio ato de iniciarmos a OCUPAÇÃO PLANETÁRIA.

Claro, haverá também a questão dos alimentos, dos remédios e da água, não apenas para aqueles que estarão nas ruas, como também para o restante da população planetária. Como produzir os alimentos, os remédios e a água, estritamente necessários para garantir a nossa sobrevivência, e não para continuar a alimentar as estruturas de controle do Imperialismo?

Questão delicada e complexa? Sim, demandará cálculos, negociações, esquemas de transporte e distribuição, mas realizados à margem do já colapsado Ocidente. Mas demandas que serão facilmente equacionadas pelos povos e pessoas, no dia a dia da Ocupação; afinal, por detrás de nós, há já todo um histórico de organização popular eficiente e democrática.

 

O que faremos, durante a Ocupação, é apenas colocar em prática as formas de convívio e acordo já aprendidas e testadas em séculos de mobilização popular, apenas que, desta vez, faremos isso em nível mundial, planetário. E definitivo.

Portanto, a questão da sobrevivência e da saúde dos povos e pessoas, não é algo que assusta o MPO.

Quanto a outras necessidades humanas, preocupam-nos menos ainda. Moradia e estudos, por exemplo. A educação, em sua maior parte, será simplesmente suspensa por longos períodos, afinal se estaremos a criar um novo mundo, haverá que se ter uma nova pedagogia, um novo conteúdo, um novo ambiente, e tudo isso, obviamente, somente poderá ser consolidado aos poucos, à medida que implantarmos a Reorganização do mundo.

Não apenas a educação, mas todas as questões que nos dizem respeito estarão em construção, estaremos num constante aprendizado e experimentação. Por isso é que, como dissemos lá atrás, não haveremos de nos preocupar com metas e cronogramas. A Festa Planetária já estará acontecendo.

Quanto à moradia, esse será o menor dos problemas e, ao mesmo tempo, uma das questões mais simbólicas para a Ocupação e o consequente Colapso do Ocidente, que provocaremos. Pois a Ocupação não se dará apenas em estradas e cidades, mas também nas próprias moradias – condomínios, prédios, mansões e por aí afora, e nunca, jamais em residências populares ou de classe média, embora, nesse último caso, onde couber mais um, dois ou três, que seja, nós faremos a ocupação.

Enfim, as moradias ocupadas serão aqueles espaços ociosos, ou de cunho especulativo, assim como as terras ocupadas serão as improdutivas; se bem que, na questão das terras, elas serão totalmente ocupadas, independente de serem produtivas ou improdutivas, aos pouco elas serão apropriadas pelos trabalhadores do campo ou da cidade. E, nesse quesito, com certeza os companheiros da vertente Marxista terão toda a habilidade para conduzir o processo – MST, PT, PCO e tantos outros.

Ainda um pouco sobre a questão das moradias necessárias para os militantes, durante a Ocupação e o Colapso. Há que se considerar que o MPO não envolverá apenas os que estarão nas ruas, mas terá também a ardorosa simpatia e adesão daqueles que permanecerão em suas casas; e essas pessoas, com certeza, não se recusarão a partilhar seus lares e seus alimentos com aqueles que estarão nas ruas. A solidariedade espalhar-se-á como um rastilho de pólvora mundo afora.

E um pouco mais sobre a nova Educação, algumas palavras de cunho pessoal. Na minha experiência de professora, entendo que deveremos ter escolas completamente diferentes das que temos hoje. Tão diferentes que nem sei se poderemos chamá-las de escolas. Penso que as aulas serão realizadas em ambientes diversificados e enriquecedores, e não em quatro paredes; mas não se trata apenas das chamadas ‘aulas de campo’, é muito mais do que isso.

A educação deverá se dar em todo e qualquer lugar aonde a vida esteja acontecendo, ou mesmo terminando: fábricas, roças, comércios, hospitais, cemitérios, casas das pessoas, matas, mares, sem contar os espaços culturais, é claro. Claro, alguma coisa deverá ser ensinada exclusivamente em salas de aula ou internet, mas que seja o mínimo.

 

Outro e fundamental espaço para a educação: lugares desertos, silenciosos, aonde as crianças aprendam a escutar os entes e o Ser, aonde aprendam a celebrar e cuidar do transcendente e do Mistério. Mas isso é assunto para outro momento, que deverá ser abordado no texto conjunto de González e Lázaro.

05 - o MPO e os trotskystas

Falei da ocupação de moradias e de terras. Mas as ocupações dar-se-ão de forma gradual em todas as instâncias: fábricas, prefeituras, agronegócio, fóruns e tribunais, universidades. Enfim, à medida que avançarmos, cada movimento, sempre em acordo com movimentos similares, irá tomando o controle de todos os espaços possíveis. Na prática, será simplesmente aquilo que hoje chamamos de Revolução, mas que ocorrerá de forma muito mais ampla, com muito mais participação das pessoas, e evidentemente com um número muito maior de pessoas envolvidas.

 

A Revolução não será mais um monopólio, seja da extrema esquerda, dos marxistas autênticos, como os trotskistas, seja da chamada esquerda pequeno-burguesa, reformista, de classe média, e nem mesmo será monopólio dos milhares de movimentos identitários e ecologistas que irão pipocar. Haverá que se construir um denominador comum para tanta diversidade revolucionária durante a Ocupação Planetária.

Por óbvio que os trotskistas terão que ser ouvidos, em razão de sua lucidez e de sua combatividade. Não haverá necessidade da Ditadura do Proletariado para colapsarmos o Ocidente, mas terá que ser levada em consideração a capacidade de organização e de análise realista, não-utópica, não divisionista, dos trotskistas. Com certeza que, aqui no Brasil, por exemplo, o PCO e seu líder Rui Costa Pimenta terão significativa participação nos rumos da Ocupação.

 

Confesso que González, Lázaro e Ilídio nos ensinaram a ver a grandeza e a lucidez do trotskismo e, de tanto insistir para que ouvíssemos as palavras de Rui Pimenta, acabamos por ver nele e no PCO um exemplo de lucidez e perseverança (foram muitas sessões coletivas de audição, instrutivas e divertidas, e também críticas, claro).

O MPO entende que um projeto tão assustadoramente revolucionário, como o será a Ocupação Planetária, não pode se reduzir a iniciativas de juventude pequeno-burguesa, a iniciativas e demandas de movimentos identitários (negros, mulheres, homossexuais, povos originários) e nem de movimentos ambientalistas e ecológicos.

Haverá que levar em conta a seriedade, a disciplina, o realismo e, principalmente, a persistência dos comunistas e, em particular, dos trotskistas. Não podemos fazer da Ocupação Planetária uma grande festa de povos e pessoas que, nos primeiros obstáculos ou disputas, acabe em mais um sonho frustrado, uma utopia de rebeldes pequeno-burgueses, como foi a Contracultura dos anos 60 e 70.

 

Não se está aqui questionando a importância da contracultura para o movimento anti-Ocidente da época, e até mesmo para os dias de hoje, mas sabemos que não houve naquele movimento a convocação e o envolvimento dos trabalhadores, dos proletários. Foi uma explosão maravilhosa, criativa, ousada, mas apenas no âmbito da classe média, com algumas repercussões é, claro, na juventude proletária.

Mas, nesse caso, o MPO não estará sendo contraditório, ou astuto, ou ingênuo, pois estaria novamente propondo o monopólio da Revolução aos comunistas, e em particular aos trotskistas, monopólio que acabou de negar há pouco? Não estará o MPO, mesmo que de forma ingênua, agindo como lobo em pele de cordeiro, para melhor arregimentar e conduzir os povos, novamente, para uma submissão a uma burocracia que se apossará da Revolução, tal como na União Soviética?

Sim, estaria sim, se o MPO não tivesse a lucidez de propor um igual peso, na Ocupação Planetária, para todos os outros movimentos, que não militem na órbita do comunismo e do marxismo. Na verdade, para o MPO seria ótimo que apenas os marxistas dessem conta de conduzir a Ocupação, Desorganização e a Reorganização. Todos esses processos seriam bastante simplificados, se houvesse somente um comando, um centro de decisão em cada país.

Mas, mesmo que o MPO e os comunistas assim o queiram, não há mais espaço, ou condições objetivas, para que a chamada vanguarda revolucionária conduza, unilateralmente, um processo de tamanha magnitude e complexidade. A nossa jornada sobre a terra tornou-se por demais complexa, para que apenas uma visão política dê conta de construir acordos e soluções para tantos povos, tantos problemas, sem corrermos o risco de, novamente, cairmos nas mãos de uma burocracia estúpida, totalitária e assassina.

Por isso, as milhares, centenas de milhares de organizações populares serão, além de bem-vindas, fundamentais no processo de Parar e Reorganizar o planeta. Elas serão o contraponto necessário para dizer NÃO aos revolucionários profissionais do marxismo e do comunismo, quando essa vanguarda revolucionária ultrapassar ou avançar determinados limites.

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