O bambuzal. Lá está ele. Lá estala ele, ora estralejante e barulhento, ora só lento ou sonolento; mesmo nós já não mais vivendo o ventoso, agitado e augusto Agosto, que já ia longe - agoras, as lânguidas horas de Outubro. Ainda assim, o bambuzal movimenta-se, dança, estraleja. Farfalhantes folhagens. Mas outroras não se dizia que:
- Vou te rachar que nem taquara no mês de Agosto...
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Então: o vento todo a seu gosto, em Agosto ou Outubro, vento ventrante, entrando no bambuzal e rasgando o verde e virgem ventre das farfalhices e folhices mais frágeis ou distraídas, mais dançarinas ou oferecidas.
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O bambuzal. Lá está ele, desde há muito. Ainda hoje parecendo um grupo de amigos e famílias acampados, no meio de suas incessantes jornadas através do tempo. Ainda hoje parecendo diferenciar-se dos bosques, capoeiras e outros ajuntamentos de árvores e arbustos, e parecendo diferente também das árvores isoladas, solitárias.
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Em presença do bambuzal, há sempre uma sensação de ternura, de delicadeza: a fragilidade de seus finos, longos e verde-claros membros se expõe por demais ao aberto, mas é também uma fragilidade que sabe se agrupar numa generosa comunhão. E, talvez por isso, a família de terna verdeclarice assista ao incessante desenrolar do tempo e das coisas com cores, posturas e farfalhares mais leves, menos tensos que as capoeiras, bosques e árvores.
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Era desse enlevo e recato que se avizinhava Andreas, ao se aquietar perto da entrada. Havia concordância nas coisas, das coisas com os dois fumantes, e das coisas e deles dois com ele, o quieto observador. Ele via o momento. E sentia que o tio, por sua vez, cheirava o que se passava, pois parece que tais momentos costumam ser transferíveis, ou talvez sempre ocorram, ou somente possam ocorrer, para mais de uma pessoa ou presença ou consciência ou alma – a gosto de cada qual.
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Esses misteriosos e repentinos momentos de abandono e ternura, que às vezes sentimos pelas coisas e pelas pessoas, quando também há a impressão de que as coisas sentem o mesmo por nós; esse vaivém de encantamento, doçura e ausência de perguntas, que às vezes sentimos entre nós e as coisas, provocado ou despertado por uma ou mais pessoas, e que parece frágil e unicamente alimentado pela fala, mesmo que pausada, da pessoa ou das pessoas presentes no cenário e no momento.