González estava presente na Queda do Muro, em 89, em Berlim, poucos antes de vir para o Brasil, e se estabelecer em definitivo por aqui. E daqui continuou acompanhando a derrocada do socialismo na então União Soviética.
Perplexo e deprimido, mas não surpreso, como a maioria da esquerda lúcida daquela época. Já anteviam que algo de muito grave aconteceria com o socialismo soviético.
E, como tantos, o filósofo espanhol entendeu que, dali para a frente, a humanidade teria que jogar unicamente de acordo com as regras do Imperialismo, e da sua impiedosa conquista dos povos do mundo inteiro, disfarçada de globalização e de modernização.
Não haveria mais um oponente que pudesse atenuar ou humanizar os efeitos degradantes dessa falsa comunhão entre os povos, levada em frente pelo neoliberalismo.
Até aí nada de mais. Mas se, por um lado, o caminho estava livre para um domínio global do Imperialismo, por outro se abria uma porta para uma resistência também global, também planetária, uma porta para uma real comunhão entre os povos, à margem da, e contra a, falsa globalização apregoada pelo Imperialismo. Como tantos outros, González também entendeu isso.
E começou a acreditar numa mobilização planetária, e isso já pelos anos de 92, 93, bem antes, portanto, dos primeiros movimentos de confrontação contra a falsa globalização, que começam a pipocar aqui e ali.Já naqueles anos, começou a tomar corpo, em suas reflexões, a criação de um movimento que simplesmente propusesse e, mais do que isso, provocasse uma verdadeira parada da engrenagem ocidental, levando essa engrenagem simplesmente ao colapso.
Nada menos do que isto: PARAR O OCIDENTE.Até aqui, ainda talvez nada de mais, apenas um sonho, uma utopia, ou mesmo o projeto político dos revolucionários do mundo inteiro, principalmente dos trotskistas que, parece, são os únicos marxistas que pregam a Revolução Comunista Internacionalista. Voltaremos a falar dos trotskistas e de seu principal partido aqui no Brasil, o PCO, liderado pelo lúcido, culto, e às vezes adoravelmente sarcástico Rui Costa Pimenta.
Acontece que as propostas do filósofo espanhol trazem alguns diferenciais, que são o que nos atraem para o Movimento.
González propõe trabalhar três vertentes nesse projeto de provocar a Destruição e a Superação do Ocidente e do Imperialismo.
Primeiro, a vertente da juventude e da esquerda Libertárias, com suas propostas de defesa do meio ambiente, liberação dos costumes – na questão das drogas, do corpo – enfrentamento da opressão às minorias (negros, mulheres, indígenas e homossexuais, entre outras) e superação das instituições políticas atuais, substituídas pela democracia direta, horizontal, sem necessidade de partidos políticos.
Segundo, a vertente dos Marxistas radicais, melhor dizendo, dos marxistas de raiz, aqueles que pregam e trabalham, sim, para uma Revolução em nível mundial. Sem fazer concessões, nos mesmos moldes da Revolução Russa, com direito a ditadura do proletariado e eliminação física da classe dominante, se for preciso; mas, claro, sem repetir o erro fatal de dar espaço para uma cruel, oportunista e cretina burocracia apossar-se da Revolução, como aquela burocracia que foi alimentada por Stalin. Não é preciso dizer que essa vertente dos marxistas teria que ser necessariamente capitaneada pelos trotskistas.
Por fim, uma vertente filosófica, ou melhor, Transcendente. Essa vertente não seria propriamente militante, combativa, mas estaria também ocupando as ruas, contribuindo, convidando as outras vertentes para verem a sua mobilização planetária como construção de algo maior, para além do enfrentamento e da solução de problemas de ordem econômica, política, ambiental e comportamental.
Nesta primeira parte, não vou me ocupar muito sobre o papel dessa vertente transcendente na Revolução Planetária, qual a sua importância real na Parada e no Colapso do Ocidente; embora seja uma das proposições que mais nos atraem no MPO.
Veremos muito sobre a relação da Revolução com o Transcendente e o Sagrado na segunda parte deste escrito. Mas serão transcrições diretas das falas e reflexões de González e Lázaro, seu braço-direito e discípulo predileto; não vou perder a oportunidade de lembrar que Lázaro é também o meu coração-direito, ou minha genuína alma-gêmea, para quem preferir, e também o meu corpo predileto e o discípulo predileto de meu corpo.
Enfim, eu não teria bagagem cultural e filosófica, nem coragem intelectual para falar de realidades tão complexas quanto o Sagrado, o Transcendente e o Ser como fundamentos últimos da Revolução. Aqui, vou abordar mais especificamente as questões concretas do MPO, suas propostas objetivas de mobilização para provocar, em nível planetário, o Colapso do Ocidente e, simultaneamente, o Aprendizado da construção de um novo mundo.